Tentativa de golpe no Brasil busca reverter o resultado das eleições

April 14, 2016

Mark Weisbrot
O Cafezinho, 13 de abril, 2016

The Huffington Post España, 20 de abril, 2016
Truthout
, 8 de abril, 2016
The Huffington Post, 4 de abril, 2016
The Hill, 4 de abril, 2016
Últimas Noticias, 4 de abril, 2016

Ver o artigo original

En Español

In English

Provavelmentenão está sendo fácil entender o que de fato está acontecendo se estiveracompanhando as notícias da turbulência política no Brasil. É comumisso acontecer quandouma tentativa de golpe no ocidente, principalmente quando o resultado é de interesse do governo dos EUA. Geralmente, as informações sobre esseinteresse, e muitasvezes o papel de Washington, são as primeirasbaixas do conflito. (Exemplos do século XXI incluem o Paraguaiem 2012, o Haitiem 2011 e 2004, Honduras em 2009, Equadorem 2010 e Venezuela em 2002.)

Primeiramente, semdúvida se trata de um golpe emandamento. É uma tentativa da elite tradicional do Brasil – que inclui, como um de seus atores mais importantes, a maior parte da grande mídia – de reverter o resultado das eleiçõespresidenciais de 2014 no Brasil. A primeiraprova é o fundamento sobre o qualesperamfazer o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT). Nãotem nada a ver comcorrupçãoouqualquercrime grave. A acusação é de que o governousoudinheiro emprestado em 2014 para dar a impressão de que o superávit primárioestava dentro da meta. Mas isso é algo que outros presidentes haviamfeito, e está longe de ser umcrime grave. A título de comparação: Quando a bancada republicana do Congresso dos Estados Unidos ameaçou parar o governo por conta do teto da dívidaem 2013, o governo Obama usouumasérie de truques de contabilidade para estender o prazo, e houvepoucacontrovérsia a respeito.

As acusações contra o ex-presidente LuizInácio Lula da Silva tambémsãoquestionáveis, mesmo que se provassemverdadeiras. Aindamais importante, os que acusamnãoconseguiram demonstrar nenhumelocom o grande escândalo de corrupção “Lava Jato” – ouqualqueroutro tipo de corrupção. Lula, como é conhecido o ex-presidente, é acusado de possuirumimóvel à beira-mar, cuja propriedade ele nega, que foi reformada por umaconstrutora brasileira, e de receberdinheiro de várias empresas para dar palestras. O mais importante, no entanto, é que aconteceramdepois que eledeixou a presidência. Embora o senador Bernie Sanders (Vermont) tenha justamente convertido o fato de Hillary Clinton, sua rival para a candidatura à presidência, ter recebidomilhões de dólares de empresas para dar palestras, essapráticanãoé ilegal nos EUA – nem no Brasil.

O principal juiz que investiga o caso, Sérgio Moro, foiobrigado a se desculpar junto ao Supremo Tribunal por vazar para a imprensa conversas grampeadas entre Lula e Dilma, bem como entre Lula e

seuadvogado, e entre a sua esposa e seusfilhos. A condução coercitiva de Lula para interrogatório, que foivazada para a mídia e envolveu 200 policiais, apesar do fato de Lula sempreapresentar-se voluntariamente para depor, tambémnãodeixoudúvidas sobre a natureza política da investigação. Se Moro tivessequalquerevidência ligando Dilma ou Lula à corrupção real, provavelmente parte dissoteria sido divulgado, considerando que ele, simplesmente para constrangê-los, vazou conversas grampeadaspessoais e privadas.

A elite corrupta e antidemocrática brasileira está tentando fazer o país voltaraoseupassadopré-democracia, quando o eleitoradonãopodia interferir emsuaescolha de líderes. Infelizmente, nem faz tanto tempo assim: a ditadura que durou até 1985 foi instalada por meio de um golpe apoiado pelos Estados Unidos em 1964, cujosesforçosatuaisguardamalgumassemelhanças.

Sobre o papel dos EUA hoje: não é nenhumsegredo que Washington gostaria de se livrar de todos os governos de esquerda na região. Naviagem do presidente Obama à Argentina, emmarço, e emoutrasdeclarações públicas de autoridades dos EUA, deixaram claro suasatisfaçãoaoacolher o novogoverno de direita no país. Além de mudarem a política, implementada contra os governos de esquerda anteriores, e de bloquear empréstimos à Argentina de credoresinternacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Mundial. Dos golpes mencionados acima, a evidência do papel dos EUA está documentada para além de qualquer  dúvida, comexceção do caso do Equador, em que nãoprovas concretas. Mas, considerando que quase nunca houveum golpe nestehemisfério contra umgoverno de esquerdasemalgumenvolvimento dos Estados Unidos, não é de admirar que muitosequatorianosacreditam que os EUA estavam (e continuam) envolvidos, também.

E tal especulação é bastante razoável no caso do Brasil, onde Washington interveioem 2005 a favor de umesforço legislativo destinado a minar o governo do Partido dos Trabalhadores. A espionagemmaciça do Brasil – e, principalmente, da empresa estatal de petróleo Petrobrás – que Edward Snowden e Glenn Greenwaldrevelaramem 2013, tambémapontanessadireção. Poderia ser umacoincidência que todas essasinformações sobre a Petrobrásforam levantadas pelo governo dos EUA pouco antes dos escândalos da empresa; ou talvez Washington compartilhoualgumasinformaçõescomseus aliados na oposição brasileira. E nãodúvida de que os principais atores desta tentativa de golpe – pessoas como o ex-candidatos à presidência José Serra e AécioNevessão aliados do governo dos EUA.

É claro que o governo do PT nãoestariaemtamanhaenrascada, mesmocom a mídia liderando as acusações, se aeconomia – que reduziuem cerca de 3,8 % no ano passadoestivesseemmelhor forma. E que, infelizmente, é principalmente devidoaospróprios erros dos legisladores do PT: a partir do final de 2010, embarcaramemumasérie de cortes de gastos, aumentos da taxa de juros e outras medidas que estagnaram a economia, isso seguido de austeridadeaindamais dura em 2015 que causouuma profunda recessãosemumfim à vista. O desempregoaumentou de umabaixarecorde de 4,3 % emdezembro de 2014 para 8,2 %. Issonãoprecisava acontecer; commais de US$ 360 bilhõesem reservas emmoedaestrangeira, o Brasil não está limitado pelo balanço de pagamentos e, portanto, poderia se recuperar com políticas macroeconômicas expansionistas.

Dilma e Lula estão na corda bamba tendo que fazer frente a algunsinimigos poderosos, masseria prematuro achar que perderam. Eles travarambatalhasmaisdifíceis. Aocontrário de seusadversários e das grandes empresas de mídia que apoiaram a ditadura, eles foram presos durante o período ditatorial. Se conseguiremsobreviver à tentativa de golpe em curso, terão a chance de consertar a economia e retornar aoseu legado – que é, afinal, um legado de considerávelprogressoeconômico e social.


Mark Weisbrot é codiretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política, em Washington, e presidente da Just Foreign Policy, organização norte-americana especializada em política externa.

Support Cepr

APOYAR A CEPR

If you value CEPR's work, support us by making a financial contribution.

Si valora el trabajo de CEPR, apóyenos haciendo una contribución financiera.

Donate Apóyanos

Keep up with our latest news